Recebi comentário de uma pessoa a respeito de como minhas postagens lhe ajudavam na educação de seus filhos. Em sua mensagem ela declara que tem uma criança que está no terceiro ano do ensino fundamental e só consegue escrever o primeiro nome e uma que cursa o segundo ano e não consegue escrever nem seu primeiro nome.
Tal situação nos remete a um fenômeno muito comum hoje em dia, a um drama que assola a escola brasileira, principalmente as instituições públicas: as dificuldades na alfabetização das crianças.
Infelizmente os professores são formados com muita base teórica e pouca competência em relação à prática alfabetizadora. Conhecem Piaget, Wallon e Vygotsky, mas não transcendem o pensamento destes autores em relação ao processo de ensino. Confundem letramento com alfabetização, como se fossem processos de mesma natureza, quando não o são: letramento é natural, espontâneo, acontece no seio da sociedade; alfabetização é uma ação intencional do professor para o aluno, no espaço da escola.
Sem método, não há sucesso. O que falta nas escolas de hoje é um professor que domine um método de alfabetização e siga-o em seus fundamentos e princípios, sabendo qual é o ponto de partida e o de chegada. O caminho ( método tem este significado etimológico) pode variar, mas sem uma definição metodológica não se chega a lugar nenhum.
No Brasil há pesquisas do INEP indicando que os métodos de alfabetização que melhores resultados apresentam são aqueles chamados de predominantemente sintéticos ou seja, que vão da parte para o todo, tais como os silábicos, alfabéticos e fonéticos. Entretanto, os professores são formados sem conhecê-los porque são considerados “fora de moda” e assumem um discurso construtivista superficial na medida em que confundem esta filosofia como se fosse um método.
Assim, o drama educacional aumenta a cada dia e formamos analfabetos escolarizados, ou seja,crianças que frequentam a escola mas não conseguem sequer escrever o próprio nome. Tristeza e vergonha para todos nós, educadores, pois não podemos nos sentir alheios ao que acontece à nossa volta e nem isentos de
responsabilidade neste contexto.
Referências:
GONÇALVES, Júlia Eugênia. Alfabetização: Métodos e Técnicas. Rio de Janeiro:Fundação Brasileira de Educação, Centro Educacional de Niterói, 1995.
NOVAES, Dulce Jucá.Psicologia Genética de Piaget e Problemas de Alfabetização. Rio de Janeiro,Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, 1976.
SOARES, Gilda Menezes Rizzo. Os Diversos Métodos de Ensino da Leitura e da Escrita: Estudo Comparativo. Rio de Janeiro, Papelaria América, 1980.
8 Comments
Sobre o artigo leitura e escrita: um panorama dramático, ao mesmo tempo que fico contente por adquirir novos saberes, fico também frustrada em saber que as vozes que fizeram parte da minha formação estavam equivocadas.
Oi Rosângela,
Este espaço é de discussão. Podemos falar sobre estes equívocos ?
Um abraço,
Júlia
Concordo plenamente com você. É simplesmente triste essa realidade que estou vivendo de perto. Está é minha primeira experiência e um grande desafio: estou acompanhando um aluno do quinto ano do ensino fundamental, ele é um aluno de inclusão (exclusão??), ele é conhecido na escola como aluno problema ( tem atrofia cerebral e comorbidades), comecei com ele final de fevereiro, comportamento inadequado e outros. Mas minha maior surpresa aconteceu semana passada quando descobri que ele lê e muito bem, conversei com sua mãe e ela me disse que “pega” firme na leitura com ele e também faz contas com centenas (adição). Agora, na sala de aula a que pertence quase a metade da sala mal escreve e lê. Há o caso da garotinha que esta no quinto ano e começou a aprender o alfabeto agora, como também as vogais. Fiquei muito triste, pois, o aluno que é considerado “problema” e com grandes dificuldades sabe o que a maioria da sala não sabe e isso não é valorizado por ninguém! impressionante como os nossos valores estão invertidos.
Afinal o que podemos fazer para melhora isso? Os professores deveriam saber como proceder, mas aparentemente se mantém alheios a essa questão.
Pois é, Margareth,
O problema é que no processo de alfabetização os conhecimentos precisam ser sistematizados, ” pegar firme” como disse a mãe de seu aluno. Se não for assim, a criança não aprende. Infelizmente, hoje em dia, muitas escolas trabalham a partir de condutas espontaneístas, confundindo, como escrevi, alfabetização com letramento. Iremos postar aqui sugestões para os professores para que tenham sucesso em seu trabalho. Aguarde !
Um abraço,
Júlia
Gente,
Sou professor de Educação Física e como na Rede onde trabalho temos uma aula teórica por semana, conheço de perto esse problema. Faço questão, na medida do possível, de trabalhar com o 6º ano e fico estarrecido quando vejo que uma boa parcela não sabe ler e escrever. No meu planejamento incluo produção de textos e comento com os(as) docentes de Língua Portuguesa o que observo. Este ano em uma das escolas em que leciono estou observando com tristeza, as queixas das docentes daquela disciplina sobre os(as) discentes que chegaram ao sexto ano sem saber ler e escrever. Sou pós graduado em Psicopedagogia e com tristeza observo que a culpa não está centrada somente no corpo discente. Ela está distribuída entre o corpo docente, a família e o poder público.
Oi Jay,
Somos todos responsáveis, como eu escrevi, por esta situação. A formação dos professores não inclui a prática alfabetizadora e depois o governo gasta fortuna para capacitar os docentes num programa ” Alfabetização na Idade Certa ! ” o que denota que o MEC sabe que a maioria das crianças não se alfabetiza na idade adequada. Assim é a nossa realidade educacional. Cada um precisa fazer a sua parte. Eu criei este espaço para que possamos trocar informações e discutir assuntos como este.
Agradeço seu comentário, que contribui para que tenhamos a noção do que acontece nas escolas.
Nesta semana e nas próximas continuaremos abordando este tema.
Um abraço,
Júlia
parabéns pela matéria.
faz nos pararmos e refletir!
abraços
Obrigada Rubens, você tem sido um leitor assíduo que sempre colabora conosco.
Um abraço,
Júlia