O jogo é uma criação humana, tanto quanto a linguagem e a escrita. O homem joga para encontrar respostas às suas dúvidas, para se divertir, para interagir com seus semelhantes. Existe no jogo, contudo, algo mais importante do que a simples diversão e interação: A revelação de uma lógica diferente da racional , uma lógica da subjetividade tão necessária para a estruturação da personalidade humana, quanto a lógica formal das estruturas cognitivas.
O jogo carrega em si um significado muito abrangente. Tem uma carga psicológica, porque é revelador da personalidade do jogador(a pessoa vai se conhecendo enquanto joga). Tem também uma carga antropológica porque faz parte da criação cultural de um povo (resgate e identificação com a cultura).
O jogo é construtivo porque pressupõe uma ação do indivíduo sobre a realidade. É uma ação carregada de simbolismo, que lhe dá sentido , reforça a motivação e possibilita a criação de novas ações.Ele aparece durante todas as fases de desenvolvimento do homem e, em cada uma delas, com características próprias. Há uma estrita relação entre o amadurecimento neuro- psicofisiológico do sujeito e o tipo de jogo que lhe interessa e lhe estimula.
A escola construtivista utiliza o jogo dando-lhe a dimensão necessária no processo ensino-aprendizagem. O Construtivismo é um filosofia que defende a ideia de desenvolvimento humano a partir das ações que o sujeito exerce sobre o ambiente. Tais ações possibilitam processos mentais fundamentais para a estruturação da inteligência humana. Porém, o jogo não foi inventado pela escola e esta não pode dele se apropriar. Precisa utilizá-lo com o respeito que ele merece como criação e patrimônio de toda a humanidade.
Piaget, o grande teórico do Construtivismo, dedicou-se a estudar os jogos e chegou a estabelecer uma classificação deles de acordo com a evolução das estruturas mentais:
JOGOS SIMBÓLICOS – De dois a sete anos – é característico do período pré-operatório e se caracteriza pelo ” faz de conta” pela representação de situações;
Estas delimitações etárias estão, logicamente, sujeitas à alterações em função das diferenças individuais.
Por intermédio do jogo a escola pode viabilizar a construção de conhecimentos de forma prazerosa, garantindo a motivação intrínseca necessária para a aprendizagem. Os jogos devem ser empregados de acordo com a faixa etária dos alunos e suas necessidades. Não é apropriação da professora. Ela não é “dona” do jogo.
Se a criança está em fase de alfabetização, aprendendo a escrever seu nome e as palavras de sua língua, a escola pode lhe propor jogos de exercício, a fim de que os esquemas de ação motora, tão necessários para esta tarefa, sejam adquiridos. A abolição total de exercícios, longe de ser uma indicação construtivista, é o total desconhecimento das teorias a este respeito.
Quando o domínio da leitura e da escrita já está suficientemente garantido, os jogos simbólicos são chamados à cena para garantir a entonação, a análise dos personagens de um texto, o brincar que a linguagem oral e escrita propicia, num recriar incessante de novas formas e estilos.
No momento em que a escrita precisa ser trabalhada em seus aspectos ortográficos e sintáticos, os jogos de regras têm especial importância, visto que a gramática , assim aplicada, deixa de ser um amontoado de regras e ganha em significação.
Apesar de a escola não ser proprietária dos jogos, pois, repetimos, eles são patrimônio da humanidade, ela pode e deve utilizá-los como recurso didático, desde que os empregue consoante as necessidades de desenvolvimento de seus alunos.
A utilização de jogos possibilita ao professor conhecer “algo mais“ de seu aluno: Aquilo que não está dado simplesmente pela estrutura cognitiva, mas que se insere no seu mundo subjetivo. Este conhecimento amplia a ação do professor, dando-lhe uma feição compreensiva. Compreendendo-os, poderá planejar as atividades mais adequadas para seu processo de aprendizagem.
Com o emprego de jogos na sala de aula, a escola garante um, clima de prazer tão fundamental para aquele que aprende quanto para aquele que ensina, pois este é um espaço de encontro, de inclusão, de trabalho mútuo e somente assim pode ser significativo para o par educativo professor X aluno.
4 Comments
olá Mestre, Julia
seu trabalho e ótimo!
todos a população esta precisando muito destas direções!
obrigado!
um abraço!
Oi Rubens,
Muito obrigada. Fico feliz em saber de seu interesse e receber este apoio.
Um abraço,
Júlia
Bom dia Júlia.
Trabalhei em Varginha por vários anos e sempre ouvi falar do seu trabalho. Tenho acompanhado as suas postagens e a as considero muito boas. Gostaria de saber qual a sua opinião sobre a retenção nas primeiras séries do Ensino Fundamental. Hoje a legislação não permite que as crianças sejam retidas antes do 3º ano, e algumas crianças precisariam de mais tempo no 1º ano para consolidar as aprendizagens. Enfim, qual é a sua opinião?
Obrigada
Oi Marisa,
Agradeço sua mensagem, estimulando meu trabalho.
Eu penso que a alfabetização se processa em mais de uma ano e há pesquisas que comprovam de que para se tornar um mecanismo a leitura e a escrita necessitam de 3 anos para que se consolide. Por isso, concordo em reter a criança após o terceiro ano, caso não tenha tido sucesso neste processo. Entretanto, como já escrevi anteriormente, muitas crianças são culpabilizadas por falhas da escola, principalmente em razão da falta de método ou do uso de métodos inadequados. Portanto, em termos de alfabetização, cada caso deve ser analisado com muito critério.
Um abraço,
Júlia